Os olhos da
pampa (histórias gaúchas)
Calou-se o
canto da vida
Sabiá, sem bem saber por que, não
cantou mais. Talvez, assim como eu, sente tua falta. Sem seu canto, e teu
encanto, ficaram tristes e silentes as manhãs, já não se ouve a sua flauta... E
eu, que só sabia assobiar tua canção... Desde então calamos, eu e o sabiá...
“Sabiá, triste flautista, desiludiu de
ser artista”.
***
Até mesmo o Bem-te-vi, que encantava a
tua chegada, por não ver-te mais por aqui, foi cantar noutra morada. E eu, que
quando bem te vi, me senti um passarinho... De repente a solidão no meu peito
fez seu ninho... E nunca mais eu bem te vi, nem a ti nem ao Bem-te-vi...
“Bem-te-vi não te viu mais, e eu nunca
mais bem te vi”.
***
João-de-barro, meu vizinho, também
perdido da companheira, deixou seu rancho sozinho e foi morar noutra
porteira... E eu que, feito ele, ergui do barro minha morada... Que tristeza,
ele bem sabe, ver o amor deixar a casa...
“Quando o amor bate asas, se faz
tapera a casa”.
***
Beija-flor, por desamor, nunca mais
fez outro ninho e nem foi mais de flor em flor, ferido à ponta de espinho.
Desde quando foste embora, falta a mais bela da flora...
“Sou Girassol sem sol, Beija-flor sem
flor”.
***
Os quero-queros, posteiros, de tanto
te querer bem, foram pra outros potreiros pra não querer mais ninguém. E tudo
em volta entristeceu depois da tua partida... O pago emudeceu, calou-se o canto
da vida.
“Quero-quero, sem querer, também quis
meu bem-querer. E tu? Ah, e tu! Tu, mal-me-queres”.